A noite estava gelada e os chuviscos, faziam com que as ruas estivessem desertas.
Malhado, arrastava-se pelo passeio de cabeça tombada, deixando que a chuva miudinha, encharcasse o seu pêlo cumprido e sujo que um dia já fora belo.
“Ali parece estar um bom lugar para dormir. Pelo menos estarei abrigado da chuva se ela cair.” – pensou.
Doía-lhe o estômago, já não se recordava a última vez que comera e sentia-se fraco e cansado.
Aconchegou-se num recanto da loja de brinquedos e preparou-se para passar a noite.
O calor das luzes da montra, aqueciam ligeiramente o lugar tornando-o menos realista.
“Que belos aqueles brinquedos! Parecem os brinquedos do meu amigo...” – recordou o cansado cão com os olhos cheios de água.
Malhado recordava-se perfeitamente do dia em que o tinham abandonado. Sem uma palavra e rodeado de um secretismo, tinham-lhe atirado do carro em andamento.
Não tinha tido tempo para se despedir do seu amigo e, embora já se tivesse passado alguns meses desde aquele dia, as feridas no corpo de hoje, oriundas da vida de rua, não doíam tanto como a grande ferida da alma.
Ultimamente, aquela dor no coração parecia querer terminar o seu sofrimento e ansiosamente, aguardava por esse dia.
Já perdera as esperanças, já perdera as esperanças de voltar a viver.
A vida da rua ensinara-lhe muito, e, uma das principais lições fora a de que o Humano, já perdera a capacidade de ver com verdadeiros olhos de ver, já perdera a capacidade de amar.
Malhado olhava o Homem com pena e chamava-o, o “cego”. Achava que ele estava cego de sentimentos e refugiava-se no Mundo do materialismo, pois tinha medo de amar.
Interrompendo os seus pensamentos, um carro a grande velocidade, projectou uma poça de água, acumulada na berma da estrada, para o abrigo. Malhado tinha agora o seu abrigo molhado.
Encolhendo-se ainda mais, rendeu-se à sua triste sorte e decidiu ficar ali mesmo.
Tinha começado a chover fortemente e a noite prometia ser de tempestade. Não tinha tempo de procurar outro lugar.
Fechou os olhos e começou a relembrar o tempo de felicidade da sua vida. O que via era um cão fresco e saudável, correndo e brincando na relva com o seu amigo.
Sabia que ainda era novo, mas já não acreditava que aqueles momentos voltassem.
“O que isto? Hum, caramba novamente aquela dor...forte desta vez...” – pensou ganindo devagarinho – “Seria real ou seria do sonho?!”
Mas não era sonho, era real.
O seu coração deixara de lutar contra a dor e rendera-se às circunstâncias.
Seu corpo magro e molhado iniciou o processo de arrefecimento.
Malhado dormia agora para sempre.
Deixara-se levar pelos seus maravilhosos sonhos e recordações e, a dor, para todo o sempre desaparecera, transformando-se ela agora, no seu passado.
Se olharmos o céu agora, veremos de certeza a estrelinha da alma do Malhado. Estará brilhando intensamente, junto de todas as outras que sofreram e morreram, vítimas da falta de visão do Homem.
Natália Vieira
Malhado, arrastava-se pelo passeio de cabeça tombada, deixando que a chuva miudinha, encharcasse o seu pêlo cumprido e sujo que um dia já fora belo.
“Ali parece estar um bom lugar para dormir. Pelo menos estarei abrigado da chuva se ela cair.” – pensou.
Doía-lhe o estômago, já não se recordava a última vez que comera e sentia-se fraco e cansado.
Aconchegou-se num recanto da loja de brinquedos e preparou-se para passar a noite.
O calor das luzes da montra, aqueciam ligeiramente o lugar tornando-o menos realista.
“Que belos aqueles brinquedos! Parecem os brinquedos do meu amigo...” – recordou o cansado cão com os olhos cheios de água.
Malhado recordava-se perfeitamente do dia em que o tinham abandonado. Sem uma palavra e rodeado de um secretismo, tinham-lhe atirado do carro em andamento.
Não tinha tido tempo para se despedir do seu amigo e, embora já se tivesse passado alguns meses desde aquele dia, as feridas no corpo de hoje, oriundas da vida de rua, não doíam tanto como a grande ferida da alma.
Ultimamente, aquela dor no coração parecia querer terminar o seu sofrimento e ansiosamente, aguardava por esse dia.
Já perdera as esperanças, já perdera as esperanças de voltar a viver.
A vida da rua ensinara-lhe muito, e, uma das principais lições fora a de que o Humano, já perdera a capacidade de ver com verdadeiros olhos de ver, já perdera a capacidade de amar.
Malhado olhava o Homem com pena e chamava-o, o “cego”. Achava que ele estava cego de sentimentos e refugiava-se no Mundo do materialismo, pois tinha medo de amar.
Interrompendo os seus pensamentos, um carro a grande velocidade, projectou uma poça de água, acumulada na berma da estrada, para o abrigo. Malhado tinha agora o seu abrigo molhado.
Encolhendo-se ainda mais, rendeu-se à sua triste sorte e decidiu ficar ali mesmo.
Tinha começado a chover fortemente e a noite prometia ser de tempestade. Não tinha tempo de procurar outro lugar.
Fechou os olhos e começou a relembrar o tempo de felicidade da sua vida. O que via era um cão fresco e saudável, correndo e brincando na relva com o seu amigo.
Sabia que ainda era novo, mas já não acreditava que aqueles momentos voltassem.
“O que isto? Hum, caramba novamente aquela dor...forte desta vez...” – pensou ganindo devagarinho – “Seria real ou seria do sonho?!”
Mas não era sonho, era real.
O seu coração deixara de lutar contra a dor e rendera-se às circunstâncias.
Seu corpo magro e molhado iniciou o processo de arrefecimento.
Malhado dormia agora para sempre.
Deixara-se levar pelos seus maravilhosos sonhos e recordações e, a dor, para todo o sempre desaparecera, transformando-se ela agora, no seu passado.
Se olharmos o céu agora, veremos de certeza a estrelinha da alma do Malhado. Estará brilhando intensamente, junto de todas as outras que sofreram e morreram, vítimas da falta de visão do Homem.
Natália Vieira
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