Gostaria que lessem este artigo e que reflectissem sobre o mesmo, pois é um assunto muito sério!
"Nos últimos anos observou-se uma crescente preocupação de dirigentes e técnicos que atuam nos Centros de Controle de Zoonoses do país com referência às questões sobre eutanásia animal. Embora seja um tema polêmico, sempre foi direcionado aos médicos veterinários com atuação em clínica médica, restringindo o assunto às questões éticas e ao papel do profissional na indicação da eutanásia e o posicionamento moral junto aos proprietários. Muito pouco abordado na grade curricular da maioria dos estabelecimentos de ensino no Brasil, esta questão até o momento não tem sido debatida a ponto de normatizar tais ações. Esta falha permitiu uma imensa variedade de métodos e procedimentos, por vezes condenáveis, em muitas das instituições do país. Daí surge o questionamento sobre não só a qualificação do profissional que executa a eutanásia, mas também sobre como o respeito é dado às espécies animais sob nossos cuidados. E por que a prática da eutanásia é aceitável em seres vivos como os animais e no homem é considerada uma prática omicida? Terão os animais menos direito à vida do que nós? Teremos nós o direito a decidir quem deve viver ou não somente por sermos os seres superiores na escala evolutiva deste planeta? E seria correto não controlarmos a população animal deixando a natureza se incumbir disto? Mas e a influência do próprio homem no equilíbrio da natureza já não provou que muitos animais podem se tornar “pragas” portadoras de doenças perigosas a saúde pública? Questões religiosas a parte... é importante refletirmos nestas indagações antes de procedermos uma eutanásia.
O termo eutanásia deriva do grego, onde eu significa boa e thanatos significa morte; portanto boa morte, ou morte misericordiosa.
Frequentemente os profissionais veterinários são solicitados para eliminar, ou seja, eutanasiar, animais portadores de afecções incuráveis, ou animais extremamente agressivos, ou ainda, animais cujos proprietários simplesmente querem se desfazer dos mesmos. É claro, por uma questão não somente ética, mas moral e humanitária, que nenhum veterinário gosta de realizar tais procedimentos. A eutanásia é sem dúvida alguma um dos aspectos mais tristes da profissão, porém o médico veterinário não pode se eximir da responsabilidade deste procedimento. A indicação da eutanásia, assim como o método a ser aplicado é de responsabilidade exclusiva de um médico veterinário. O médico veterinário deve ter conhecimento amplo sobre o mecanismo de ação do método a ser escolhido.
A Associação Americana de Medicina Veterinária em recente publicação, considera que a morte humanitária de animais deve ser aquela que ocorre com o mínimo de dor e estresse possíveis. É neste contexto que nós temos a responsabilidade de assumir como profissionais e como seres humanos, que se uma vida animal está para ser extinguida, que seja feito com respeito e misericórdia ao animal sob nosso cuidado. As técnicas de eutanásia devem resultar na perda rápida de consciência, seguida de parada cardíaca e ou respiratória e por fim, perda da função cerebral. Não existe um método de eutanásia totalmente isento de dor e estresse ao animal. Cabe ao veterinário encontrar um equilíbrio entre os métodos disponíveis e as condições de trabalho que dispõe para minimizar o estresse e a ansiedade que antecedem a perda de consciência do animal.
Quanto ao controle populacional de caninos e felinos domésticos, realizada pelos Centros de Controle de Zoonoses, sabe-se que a morte dos animais errantes por si só não constitui um mecanismo eficiente da regulação populacional dos mesmos. Associado a este, hoje em dia há medidas adjuvantes de controle como campanhas de castração de animais e conscientização da sociedade quanto ao conceito de posse responsável. Considerando-se que uma única cadela, durante a sua vida reprodutiva pode gerar direta ou indiretamente 67000 cães num período de 6 anos (THORNTON,1993), todas as medidas empregadas para o controle populacional devem ser empregadas em conjunto, pois isoladamente não solucionam o problema da superpopulação animal.
Considerando-se ainda a questão legal da eutanásia, recomenda-se que todo profissional médico veterinário somente realize o procedimento após anuência, por escrito do proprietário do animal. Este termo de ciência deve conter todos os dados do animal e do proprietário. Nas situações onde o proprietário não for localizado ou mesmo for inexistente, tal procedimento deverá ser justificado em legislação vigente, fornecendo desta forma amparo legal aos profissionais dos Centros de Controle de Zoonoses.
Aos profissionais que trabalhem nos Centros de Controle de Zoonoses assim como aos técnicos dos mesmos, que convivem com a rotina do método, é importante sempre um acompanhamento psicológico dos mesmos. A convivência com esta rotina muitas vezes desencadeia desde frustrações profissionais e pessoais até sérios problemas sociais como alcoolismo, dependência química de drogas, agressividade familiar, entre outras.
É necessário refletirmos nos conceitos e procedimentos, não permitindo que neste novo século ainda se promovam atrocidades contra aqueles que são nossos irmãos menores na escala zoológica, mas por serem frutos de uma mesma origem de vida merecem respeito, admiração e cuidados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, A.C.C.; ARAÚJO, F.A.A. Eutanásia Animal em Centros de Controle deZoonoses. Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária, ano 7, n. 23, p. 12-17,2001.
AMERICAN VETERINARY MEDICAL ASSOCIATION. Report of the AVMA Panel on Eutanasia. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 218, n.5, p.669, 2001."
http://www.cibelefcarvalho.vet.br/eutanasia.htm
3 comentários:
Natália, independentemente dos motivos que a levaram a abandonar a Spad, queria antes de mais dar-lhe os parabéns pela sua iniciativa na criação deste blog.
Á imagem do meu próprio blog, é patente o desejo em nós de uma mudança de mentalidades no que diz respeito aos nossos amigos.
No que concerne á eutanásia propriamente dita e porque não sei ao certo a orgânica da Spad neste sentido e como tal prefiro não opinar, de uma forma geral e no que toca a animais, sou francamente contra por razões óbvias.
Não consigo ler o seu artigo por saber de antemão o impacto que ele terá certamente em mim mas é relativamente fácil adivinhar o seu conteúdo.
Anseio por uma mudança radical no que diz respeito á conduta da humanidade para com eles e lutarei por essa causa -com os mecanismos que dispuser- até que a "voz me doa"!!
Obrigada Xana pelo teu apoio e pelas tuas palavras.
É isso mesmo, vamos continuar a lutar na mudança de mentalidades e vamos falar na importância da esterilização dos animais.
Elaborar uma campanha de esterilização gratuita para as pessoas de fracos recursos e para os abandonado, era e continua a ser o meu grande sonho.
Foi algo que eu sempre defendi e tive muita pena de não a conseguir, durante o tempo que estive na SPAD, motivos esses que me foram alheios.
Vamos continuar a lutar sem perder a esperança.
O que me deixa muito triste é saber que, diariamente, continua-se a abandonar animais e a maltrata-los.
Como todos nós sabemos, a lotação da SPAD é para 300 cães e mensalmente são adoptados uma média de 60 animais. Não é muito difícil deduzir o que acontece aos animais que entram, mensalmente, nesta Associação e que andam, neste momento à volta dos duzentos, trezentos, mês.
Triste, não?
Era da opinião que parte desses animais, deveriam ser vacinados, tratados e que deveriam voltar para a rua, em vez de serem eutenasiados. Que deveriam existir equipas de voluntários que cuidassem deles diariamente e que lhes dessem comida e atenção.
Um sonho não?
Como essa era a minha opinião e a de mais ninguém na Direcção da SPAD, decidi sair, porque já não conseguia dormir com a minha consciência livre.
Enfim...
Obrigada uma vez mais.
Natália,
Vejo que temos alguns projectos de vida em comum. Bom seria termos apoios e financiamentos para os concretizarmos e levarmos avante algumas das coisas que idealizamos.
Infelizmente além de muita negligência por parte dos civis, há também por parte do governo e de entidades que pudessem eventualmente dar algum contributo em termos de incentivos para a criação de novos projectos e espaços. Não temos hospitais veterinários e nem um único zoológico temos. Como querem que se sensibilize as populações para uma série de factores se nunca se promove esta área criando espaços alternativos onde os mesmos possam ser tratados e vistos? Por cá, joga-se a responsabilidade toda para a SPAD simplesmente porque não há alternativas. Havendo, a responsabilidade deles seria bem menor e quem sabe, as mentalidades aos poucos fossem de facto mudando, principalmente naquele que é o nosso calcanhar de Aquiles: Nas esterilizações e nos abandonos!
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